Wikileaks: Gabinete de Segurança do governo do RN quis comprar softwares de espionagem italianos





Desde o início de julho, o Wikileaks vazou dados confidenciais de uma empresa de espionagem italiana chamada Hacking Team. 
Os e-mails da companhia vazados dão conta de envolvimento de diversos órgãos de segurança e investigação brasileiros, como a ABIN.
Nesta sexta, O Cafezinho de Miguel do Rosário destacou as menções ao interesse da Procuradoria Geral da República sobre os software de espionagem da Hacking Team.
Segundo os vazamentos, os aplicativos Da Vinci e Galileo, produzidos pela Hacking Team, são essencialmente vírus que infectam usuários em grande escala e permitem que terceiros controlem remotamente os celulares, dando total abertura para gravar à qualquer momento o som captado pelo microfone dos aparelhos, acesso a tudo que é escrito, captura da imagem da câmera, além de muitas outras possibilidades, em uma escala que não respeita os parâmetros determinados nas leis que regulamentam o grampo autorizado judicialmente.
Há registros de negociação com diversos órgãos e instituições. Entre os tais, surge o gabinete de segurança do governo do estado do RN, representado pelo Major João Carlos Assunção Pereira de Oliveira.
O Major Assunção escreveu à empresa denunciada pelo Wikileaks em 2011, quando a governadora era Rosalba Ciarlini, então no DEM. Mas Assunção, conforme assina, era assessor militar da vice-governadoria, ocupada então pelo atual governador Robinson Faria (PSD):

Da: joaocarlosrn@digizap.com.br [mailto:joaocarlosrn@digizap.com.br] 
Inviato: sabato 13 agosto 2011 18:32 
A: a.scarafile@hackingteam.it 
Oggetto: Major Assunçao- VICE-GOVERNADORIA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE Priorità: Bassa 

Prezado Alessandro Scarafile; 

Estive no ultimo evento em Brasilia e mantive contato com sua pessoa a respeito dos softwares da HACKINGTEAM . Se sua pessoa poder enviar uma lista com valores gerais de todos os produtos que estavam na Feira de Segurança , seria muito bom, pois senti interesse por parte do meu governo e de outros a aquisição . Solicito-vos que seja breve , tendo em vista que tenho que mostrar valores individuais e coletivos dos produtos para uma possivel negóciação . Outrossim , envie o valor minimo de compra para que eu possa informar a quem de direito 

Atenciosamente ; Major João Carlos Assunção Pereira de Oliveira 
Assessor Militar da Vice-Governadoria e Chefe do Gabinete Militar do Vice-Governador do Rio Grande do Norte 
Contato: 55 84 96284900 
55 84 32321185 ( SALA DO COMANDO DO GABINETE MILITAR ) 
A empresa respondeu ao e-mail com os preços solicitados em anexos.  Não há informação de que os produtos tenham sido adquiridos.
O que chama a atenção na possível compra é que o sistema de espionagem avança além dos limites de legalidade a respeito de quebras de sigilos, quando autorizados pela justiça. Além disso, os produtos teriam sido adquiridos pelo gabinete de segurança do governo que, salvo engano, não tem respaldo para esse tipo de investigação.

Leia abaixo texto publicado pelo site do Partido Pirata do Brasil:

Dados confidenciais da empresa de espionagem italiana Hacking Team, recentemente vazados na web, comprovam que a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) e outras instituições responsáveis pela segurança nacional teriam adquirido programas de espionagem, por intermédio da empresa brasileira Yasnitech.

Os aplicativos de nome Da Vinci e Galileo, produzidos pela Hacking Team e comprados por nossas polícias, forças armadas, Abin, Procuradoria Geral da República e Ministério Público, são essencialmente vírus que infectam usuários em grande escala e permitem que terceiros controlem remotamente os celulares, dando total abertura para gravar à qualquer momento o som captado pelo microfone dos aparelhos, acesso a tudo que é escrito, captura da imagem da câmera, além de muitas outras possibilidades, em uma escala que não respeita os parâmetros determinados nas leis que regulamentam o grampo autorizado judicialmente.

FEITIÇO CONTRA O FEITICEIRO

Todos que adquiriram os programas estão seriamente comprometidos. Com o vazamento do código fonte destes softwares, forças de segurança e inteligência no Brasil devem iniciar um procedimento de contingência. Estes programas podem ser usados de forma reversa, para espionar as agências nacionais.

A questão foi abordada pela própria Hacking Team: “Terroristas e outros podem implantar esta tecnologia à vontade, se eles tiverem a capacidade técnica para fazê-lo”, escreveu o porta-voz Eric Rabe, em comunicado nesta quarta-feira. “Acreditamos que esta é uma situação extremamente perigosa.”

YASNITECH

Os dados mostram que as agências brasileiras teriam adquirido tais programas de espionagem através de revendas pela empresa brasileira Yasnitech. Em um email, funcionários discutem a venda do software espião:

“Para o projeto real da Yasnitech deve ser de revendedor …. a PF [Polícia Federal] não quer um contrato internacional. Eles querem um contrato com uma empresa local para prestar apoio. Mesma coisa para a Polícia Civil de São Paulo”.

Ainda há trocas de emails com:

Capitão do Exército Brasileiro link

Delegado da Polícia Federal link,

Capitão da Polícia Militar de São Paulo link

Polícia Civil do Rio de Janeiro link

Polícia Civil do Amazonas link

Gabinete de Segurança do Rio Grande do Norte link

Os emails detalham encontros com delegados, militares e agentes policiais brasileiros, assim como agendas, discussões, negociação de valores, formas de faturamento e notas contábeis.

A TOTAL FALTA DE ÉTICA DA HACKING TEAM

A Hacking Team antes afirmava que não vendia seus produtos a organizações governamentais que estão na lista negra da NATO, mas os críticos já diziam que ferramentas da empresa já foram usadas contra jornalistas marroquinos pró-democracia.

As informações provam que países como Arábia Saudita, Egito e Omã, com sérias questões relativas aos direitos humanos, utilizaram os serviços da Hacking Team. Provam também que a HT adulterou códigos-fonte de diversos softwares conhecidos para transformá-los em Malwares de espionagem, inclusive construindo sua própria versão do navegador Tor, utilizado amplamente por jornalistas para se protegerem e protegerem suas fontes.

PIADA COM DILMA

Em 2013, em uma das trocas de e-mail entre funcionários da Hacking Team, há uma piada sobre o escândalo de espionagem revelado por Edward Snowden: “Sabe como a Dilma faz quando quer entrar em contato com o Obama? Ela manda um e-mail para si mesma.”

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