Operação Sinal Fechado: Investigação entra pelas portas do governo Rosalba

Não é apenas pela denúncia contra o atual diretor-geral do Detran/RN, Érico Ferreira, que a investigação da Promotoria de Defesa do Patrimônio Público entra pelas portas do governo Rosalba Ciarlini (DEM), apesar de ser essa a manifestação mais evidente.
Enquanto os indícios do envolvimento dos ex-governadores Wilma de Faria e Iberê Ferreira estão cada vez mais presentes nas páginas dos jornais e na blogosfera, a incursão da organização criminosa no governo Rosalba estava restrita às notas de rodapé até a denúncia apresentada pelo Ministério Público contra o diretor-geral do Detran, Érico Ferreira.
Com a pressão da mídia e da opinião pública, o governo Rosalba suspendeu a vigência do contrato que previa a inspeção veicular obrigatória em 7 de janeiro, por 45 dias.  Em 9 de fevereiro, a governadora anunciou a anulação do contrato com o INSPAR, ainda que dissesse também que seria analisada a melhor maneira de realizar a inspeção veicular no estado.  Mesmo assim, apenas no fim de maio o contrato foi efetivamente cancelado.  Por quê?  O que acontecia nos bastidores?
Qual a solução que Cassiano anunciou grupo que João Faustino concebera?
Antes disso, porém, precisamos avançar até julho.  Mesmo depois da suspensão e posterior cancelamento do contrato entre Detran e Inspar, a organização criminosa continuou se movimentando.  E fez pressão sobre o vice-governador Robinson Faria (PSD) e sobre o primeiro-cavalheiro Carlos Augusto Rosado.


Carlos Augusto Rosado disse a Gilmar da Montana que, sobre reabrir o negócio da inspeção, "esse ano não dá mais, e que por ele não sabe quando".  Gilmar disse a Mou também neste telefonema, de 12 de julho, que havia um acerto com Érico Ferreira mas que o diretor-geral do Detran "agora diz que não pode".
Em outra ligação, em agosto, Alcides diz a George Olímpio que o problema para as negociações com o governo Rosalba não avançarem é que Carlos Augusto Rosado tem "ódio" de George:


As conversas entre Alcides Barbosa e Pablo, em maio, revelam mais detalhes da negociação travada com o governo Rosalba.  Alcides fala da possibilidade de chegar ao vice-governador Robinson Faria, inclusive se utilizando de sua proximidade com o prefeito Gilberto Kassab, principal articulador do partido do vice-governador Robinson, o PSD.
O mais grave entre as coisas que são ditas nesse diálogo é a constatação de que Robinson é a última resistência a um acordo pela retomada da inspeção veicular no governo Rosalba.  (O nome de Robinson está grafado erroneamente na transcrição).

Os dois têm a intenção de envolver o vice-governador oferecendo construir as bases em terrenos de sua propriedade.  
Se parecer que Robinson tem uma resistência ética ao envolvimento com a questão, Pablo trata de esclarecer.  Diz a transcrição que Pablo "já tinha iniciado essa conversa, e que o mesmo está esperando retorno dele, mas parou um pouco por não precisar mais, mas agora é só retomar".  
No dia seguinte, os dois se falam novamente sobre essa articulação com Robinson Faria.


Fica claro que Robinson tem resistência contra um dos participantes do esquema fraudulento, mas não fica claro contra quem.  Pablo diz que com Alcides não tem problema.  E Pablo, demonstrando que o vice-governador já conhecia as propostas que o grupo poderia apresentar, diz que pode apresentar Alcides dizendo que é "o parceiro da inspeção de São Paulo, é o cara que trouxe a Direcional pra cá também e é interessante você receber esse cara".  Pablo pergunta a Alcides se é interessante apresentá-lo como ligado a Kassab, que responde não ser necessário, "mas pode dizer que é um cara que já trabalhou com o KASSAB quando o mesmo foi secretário do PITTA, e pede que não deixe isso vazar para ninguém".
A negociação do governo atual com a quadrilha fica mais clara nesta gravação de conversa entre Alcides e Marco Aurélio, de outubro.
A petição esclarece que "o cara" seria Carlos Zafred.  Perceba que Marco Aurélio diz que a dificuldade de negociação com o governo é a pressão de Marcos Rola, da construtora EIT.
É nesse ponto que cabe trazer para a história o outro ponto de negociação com o governo do Estado.  É o senador José Agripino (DEM), de quem João Faustino é suplente.
A governadora Rosalba Ciarlini (DEM) anunciou o cancelamento do contrato entre Detran e Inspar na tarde do dia 9 de fevereiro, mas os integrantes da quadrilha já sabiam, desde o final da manhã, que "a ordem é para mandar cancelar".



Eduardo Patrício diz a George, então, que a solução possível é "seguir com José [Agripino]".
Além disso, George está embarcando para Brasília para uma reunião com o senador.  Cerca de duas horas depois de George dizer a Gilmar que estava indo a Brasília, João Faustino diz a George que falou com José Agripino "e este iria ligar para Governadora e para Paulo de Tarso".  A reunião entre George e José Agripino, com o advogado José Delgado seria às 18h no gabinete do senador em Brasília.
José Agripino, o senador "probo", intercedeu em favor do consórcio Inspar.  Chegou a ser noticiado que o consórcio havia contribuído com R$ 700 mil na sua campanha.  Falei sobre isso aqui.

Os promotores do Patrimônio Público descobriram que a organização criminosa repassou R$ 140 mil para o denunciado Eduardo Patrício, que na transcrição acima afirma que agora restava seguir com José Agripino.  Aí a Delphi Engenharia, empresa de Eduardo, repassou, em três parcelas, R$ 150 mil para a campanha de Wilma de Faria.  O Ministério Público acredita que essa tenha sido uma triangulação para que o consórcio doasse à campanha de Wilma.


Com base nessa informação, é possível supor outros desdobramentos.  Se Iberê recebeu R$ 1 milhão do esquema fraudulento, como revelam as escutas, o dinheiro deve ter seguido para a campanha.  Pode ter entrado para caixa dois, mas provavelmente a entrada nas contas de campanha deve ter sido legalizada. 
Nas prestações de contas do PSB e de Iberê há apenas uma doação cujo valor é R$ 1 milhão. (clique nas imagens para ver maior).



Será que houve triangulação semelhante nas doações?

Como mostrei no post de dois dias atrás, entre os dias 13 e 22 de setembro há uma movimentação intensa nas contas do DEM e do senador, envolvendo um valor muito próximo aos R$ 700 mil e uma construtora:

Observação: Acima, onde se lê "setembro de 2009", leia-se "setembro de 2010"

Aí você pode voltar algumas linhas e perceber que em gravação do dia 05 de outubro de conversa entre Alcides e Marco Aurélio.  Ali, Marco diz que o governo do estado quer negociar mas tem Marcos Rola, da EIT, por trás, atrapalhando.   Além disso, basta lembrar, também, que José Agripino tem uma relação antiga com a empresa de quem foi engenheiro, antes de se tornar prefeito biônico de Natal no fim dos anos 1970.

Para além da denúncia do atual diretor-geral do Detran, como visto, entra o escândalo pela sala da governadora Rosalba Ciarlini (DEM).

E isso sem termos falado sobre o plano de João Faustino para salvar o negócio da organização.

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